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Brasília: 50 anos e JK

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Brasília: 50 anos e JK

(*) Nelson Valente

Foi uma campanha estranha e contraditória: havia o carisma do candidato, não reconhecido nacionalmente mas credenciado pelo seu governo em Minas Gerais e pela sua passagem na Prefeitura de Belo Horizonte. O nome de Juscelino era complicado de pronunciar, custo a se adaptar à fonética eleitoral. A estranheza da campanha, era que justamente o candidato que trazia mais empuxo de vitória fora considerado o "herdeiro do mar de lama" que causara o suicídio de Getúlio Vargas. A grande sombra do suicida pairou durante os meses de campanha. Chegou a ir além da própria campanha, pois, Juscelino, eleito, teve a vitória contestada e seriam necessárias duas mini-revoluções, ou melhor, dois golpes militares para que a vontade das urnas fosse reconhecida.

Nunca houve candidato presidencial tão sem chances como JK. As feridas provocadas pela crise de agosto de 1954 (morte de Vargas) estavam acesas. No poder haviam se instalado os conspiradores de agosto, a começar pelo presidente Café Filho, um vice que, no acesso da crise, deu o puxão final no tapete de Vargas, colocando-o à mercê dos sicários que desejavam apunhalá-lo politicamente. O chefe de sua Casa Militar, general Juarez Távora, era outro conspirador de primeira e última hora, bajulado pela UDN e dela bajulador: por sinal, ele acabaria como candidato da UDN para a sucessão de Café tornando-se o principal adversário de JK. Este vinha sofrendo o diabo para retirar sua candidatura em nome de dita união, que afinal se resumia em manter a UDN no poder através da nomeação de Juarez Távora para o cargo de Presidente da República.

Volta e meia, surgia um manifesto de generais, exigindo a tal união nacional. Valia tudo para afastar a candidatura de JK, na verdade, valia tudo para que não houvesse eleição. Felizmente para o Brasil, o candidato JK ia em frente. Ele havia dito aos generais que o pressionavam, na presença de Café Filho: "Deus poupou-me do sentimento do medo". Em fins de março de 1955, o PSD comprara um velho DC-3, prefixo PP-ANY, com capacidade para 16 pessoas, 2 camas ,2 mesas com máquinas de escrever e outros equipamentos de escritório. Aquela seria a casa do candidato nos próximos meses. A campanha começaria a 4 de abril em Goiás. A plataforma JK foi armada em torno de um programa, chamado de metas, ou seja, criar o desenvolvimento a partir do interior. A civilização não ultrapassara o nosso litoral e, através de construção de estradas e da instalação de uma indústria de base, o brasileiro deixaria de ser um pescador de siri – expressão que JK gostava de repetir, referindo-se à mania daqueles que só investiam ou produziam com direito à vista panorâmica para o mar.

No programa de metas não havia lugar para Brasília naquele 4 de abril de 1955, que marcou o primeiro dia de campanha do candidato pessedista. Não houve mas passou a haver. O PP-ANY se dirigia para Rio Verde, no interior goiano. Um temporal impediu que o aparelho pousasse na pista de terra. O jeito foi buscar um pouso alternativo em Jataí. Não havia palanque e a caçamba de um caminhão quebrou o galho. JK discursou para os jataienses. O discurso não foi dos mais brilhantes, porque ele gostava de se preparar para enfrentar os problemas da comunidade, mas não houve tempo disso em Jataí. Ficou em generalidades. Mas este comício entrou para a história do Brasil. JK prometeu que cumpriria rigorosamente a Constituição e, de repente, um aparte no meio do povo: um cidadão, Antônio Carvalho Soares, conhecido como Toniquinho, coletor estadual, interpelou o candidato: "Se o senhor vai cumprir a Constituição, porque não cumpre aquele dispositivo que transfere a capital da República para o Planalto Central?"

Bom de bola, JK não deixou cair a peteca. Até aquele momento poderia ter pensado em tudo, menos naquilo: mudar a capital. Procurando identificar o interpelante, ele foi respondendo: sim, cumpriria a Constituição e o povo goiano poderia contar com ele; a capital seria transferida. Aquela promessa feita em Jataí só poderia render votos em Goiás.

JK seguiu o seu estilo, foi em frente, visitou mais de 2.500 localidades pelo Brasil. O que marcou a sua campanha, não foi a campanha para ele ser Presidente, mas a campanha que fizeram para que ele não fosse Presidente da República. Por isso. Ele estava sempre ligado no Rio, onde governo, militares e UDN conspiravam contra ele. Todo mundo sabia que a mesa estava sendo posta para o General Juarez Távora, que mandava e desmandava no governo Café Filho. Havia reações aqui e ali, e o jeito foi lançar uma candidatura de ensaio, um boi de piranha suculento na pessoa do Governador de Pernambuco, Etelvino Lins. Com a falta de imaginação peculiar aos udenistas, ele contrapunha ao dinâmico Programa de Metas de JK o binômio Pão e Vergonha – versão piorada do binômio Energia e Transporte, que dera fama a Juscelino em sua passagem pelo governo de Minas Gerais.

JK durante os deslocamentos eleitorais só se alimentava de pão e arroz. Procurava se livrar das maioneses e quitutes da região alegando gastrite ou taxa elevada de colesterol. Como médico, a sua opinião era respeitada. Quando Juarez entrou na campanha, alegou uma colite e o menu obrigatório era frango cozido na água e sal, sem tempero. Não faltou gente que atribuísse a esse frango, a derrota de Juarez nas urnas. Esse frango tornou-se um dos mais eficientes cabos eleitorais de Juscelino.

A campanha de Juscelino acabou em Belo Horizonte, ao som do Peixe Vivo, que não pode viver fora da água fria. Eleito e diplomado ele pensou que a campanha havia terminado. Enfrentou, no entanto, em novembro dois golpes sucessivos para impedir sua posse.

(*) é professor universitário, jornalista e escritor


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