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A Culpa é da Burguesia!

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Giba Net: A Culpa é da Burguesia!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Culpa é da Burguesia!

(*) Nelson Valente

A educação brasileira vive um tempo curioso, para não dizer exótico. As novidades se sucedem - e o ensino está cada vez pior.


Em conversa com o professor Arnaldo Niskier (membro da Academia Brasileira de Letras) e dele recolho o espanto com que recebeu a notícia de que a Fundação Educacional do Distrito Federal recomendou aos seus professores que não tirassem pontos dos alunos que escrevessem errado. Ou seja, ninguém deve dar bola para a gramática e a ortografia.

Segundo uma confortável versão, quem se preocupa com essas coisas "é a burguesia".


Particularmente, esgotei a minha capacidade de espanto diante de tais barbaridades.

Se o aluno toma conhecimento dessa estranha orientação, de que forma terá estímulo para demonstrar apreço pela língua portuguesa?

Ao mesmo tempo em que isso ocorre especialista em educação apontam erros mais frequentes anotados nas provas dos acadêmicos:


1. Falta de adequada ordenação de ideias, o que prova não ter o aluno o hábito de escrever; 

2. Falta coerência e coesão nos textos; 

3. Inadequação ao tema proposto (por falta de familiaridade com o tema indicado, o aluno foge para outro mais confortável); 

4. Dificuldade em estruturação de parágrafos; 

5. Erros de concordância nos tempos verbais, fragmentação da frase, separando sujeito do predicado por vírgula, utilização equivocada de verbos e pronomes, o que em alguns casos leva até a prejudicar a compreensão do texto.

Se isso é verdade no texto das redações, é fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.

Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.


Tenho insistido na vergonha em que se constitui a nossa taxa anual de leitura: menos de dois livros por pessoa, o que nos coloca muito longe das nações mais desenvolvidas.

Volto à Fundação Educacional do Distrito Federal para lamentar que os seus professores sejam instados a abandonar a ideia da redação, "porque em geral os temas dados aos alunos são irreais".


Além disso, há o desprezo pelas regras gramaticais e ortográficas, como se houvesse um desejo recôndito de prestigiar a ignorância. 

Não se quer exagerar os cuidados com a norma culta da língua, mas por que valorizar o linguajar sem regras? 

A educação não existe exatamente para conduzir os alunos ao aprendizado?

Sobre a redação, permito-me discordar frontalmente da tese enunciada.


A ser verdade o que foi proclamado em Brasília, ninguém mais poderia ser escritor, dando asas à imaginação.

Só se poderia escrever sobre vivências claras, com o evidente abandono de tudo o que pudesse privilegiar a criatividade.

(*) é professor universitário, jornalista, escritor e inestimável amigo

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1 Comentários:

Às 1 de outubro de 2010 às 10:34 , Anonymous Rose disse...

Nelson, A leitura é considerada um sistema simbólico, alicerçado
na linguagem falada, que por sua vez depende
da linguagem interior. A relação entre a palavra escrita
e o sistema simbólico de significação é uma operação
cognitiva que envolve processos específicos
como a codificação, decodificação, percepção, memória,
entre outros. Para a pessoa decodificar e atribuir
significado ao que está escrito é preciso ativar sua
estrutura representativa, atribuir significado ao código
de modo a reconhecer a palavra impressa, atribuir a
essa palavra o significado correspondente e compreender
Escrever supõe tomada de decisões acerca do que
vai ser escrito, como será escrito, que letras devem ser
empregadas. Se alguém pede ao sujeito que escreva a
palavra aniversário, ele terá que organizar as letras
em um plano coerente e revisar o que foi escrito. Terá
que lidar com diferenciações e negações para escrever,
ou seja, diferenciar os signos entre si e excluir as
letras que não devem ser utilizadas. É um processo
muito lento a princípio que vai se tornando automatizado
com o tempo, e essa automatização implica economia
de memória e atenção, simplificando a tarefa,
ao mesmo tempo em que se torna extremamente rápido.
As dificuldades de aprendizagem em escrita podem
se manifestar por confusão, inversão, transposição e
substituição de letras, erros na conversão símbolosom,
ordem de sílabas alteradas, lentidão na percepção
visual, entre outros. Essas dificuldades podem se
manifestar em áreas distintas como ao soletrar ou
escrever uma palavra ditada.
Para a maioria dos pais, bem como para seus filhos,
o período de escolarização terá a exata duração
da ausência da ajuda financeira em casa, que nas camadas
economicamente menos favorecidas ocorre
bem antes do previsto na lei. Repetindo a história, a
partir do momento que tiverem que ingressar no mercado
de trabalho, a escola ficará em segundo plano,
muito mais se for associada à não-aprendizagem do
conhecimento básico: “saber ler e escrever e fazer
contas”, como diziam antigamente.
Excelente matéria, abraço
Giba amigo, abraço e obrigada por postar assuntgos interessantes.
Rose*

 

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